segunda-feira, 25 de julho de 2022

Escola Estéril

 

[...]As aulas convencionais com espaços indiferenciados
são cenários empobrecidos e tornam impossível
(ou dificultam seriamente) uma dinâmica de trabalho
baseada na autonomia e na atenção individual
de cada criança (ZABALZA, 1998, p. 50)

Cores e palavras, imagens e poesias, mapas e fotografias... Nada disso importa para os outros quando nada disso importa para si... Não vamos revelar aos outros, aquilo que não nos é importante. Não vamos mostrar aos outros, aquilo que não queremos ver. Não vamos transmitir aos outros, aquilo que somos incapazes de entender, apreciar, valorizar.

Mas quando os outros são crianças que necessitam ver, continuamos negando. Não vamos tornar o caminho mais fácil. Não vamos fazer com que esses anos sejam agradáveis. Não vamos ter o trabalho além do trabalho de representar papéis de educadores, não. Isso seria demais.

Um ambiente estéril, que não produz ou reproduz a beleza do processo de ensino-aprendizado, um ambiente que nega qualquer tipo de contato com as artes e a literatura, com a nossa história e a história dos outros, com as ciências dos seres e da natureza. Um ambiente sem estímulos, paredes vazias de vida, corredores vazios de cores, salas vazias de cultura. A escola tornou-se um ambiente infértil porque assim a fizeram.

Não a querem interessante, não a querem divertida, não a querem gentil nem viva. Fazem das escolas meros lugares para se perder horas do dia, sem real aprendizado, sem fomento nem liberdade. A educação está morta, e foi morta por aqueles que um dia juraram ensinar, lecionar, guiar e educar. A educação está morta nas mãos de irresponsáveis profissionais da própria educação; maltratada, insultada, agredida, estrangulada, esquartejada. A educação está morta.

E por estas paredes acromáticas, funestas e silenciosas, por estes corredores desolados e esquecidos, por onde caminhamos sem esperança, perdem-se as chances, perdem-se as vontades, perdem-se as perguntas, perde-se o futuro.

É de notório saber que um ambiente escolar adequado é de extrema importância, assim como Galardini e Giovannini (2002) enfatiza a contribuição do espaço no processo de ensino-aprendizado:

[...] A qualidade e a organização do espaço e do tempo dentro
do cenário educacional podem estimular a investigação,
incentivar o desenvolvimento das capacidades de cada criança,
ajudar a manter a concentração, fazê-la sentir-se parte
integrante do ambiente e dar-lhe uma sensação de bem-estar
(p. 118)

E também como afirma Ana Lúcia Goulart

[...] Um espaço e o modo como é organizado resulta sempre
das ideias, das opções, dos saberes das pessoas que nele
habitam. Portanto, o espaço de um serviço voltado para as
crianças traduz a cultura da infância, a imagem da criança,
dos adultos que a organizaram; é uma poderosa mensagem do
projeto educativo concebido para aquele grupo de crianças.

Se formos focar na necessidade de cada uma das disciplinas escolares, perceberemos um maior desprezo, se ainda for possível. Para as aulas de geografia não há mapas nas paredes; para as aulas de ciências da natureza não um ambiente adequado para práticas científicas; Para as aulas de arte não há uma lousa ou quadro adequado para criações, quiçá materiais de criação, recursos audiovisuais, e locais para armazenamento.

Segundo Ceppi e Zini(2013) “O espaço deve ser organizado de maneira eficiente para arquivamentos da documentação dos trabalhos e projetos realizados pelas crianças.” E também “O cenário cromático deve ser rico, envolvendo todas as variantes de identidade das cores sem, contudo criar um efeito “cacofônico”; em vez disso um resultado equilibrado, que crie harmonia.”

O descaso sempre foi pautado, e sempre foi engavetado, desacreditado. A inadequação do ambiente escolar se dá pela falta de sensibilidade das equipes gestoras, claramente um problema de visão educacional que visa tão somente o trabalho físico e burocrático, não levando em conta os múltiplos aspectos de uma educação integral, como gostam de bradar aos ventos. Uma problemática político-administrativa que foge da alçada dos docentes.

A escola democrática e participativa se encontra apenas no papel. O que temos é uma instituição ultrapassada e marcada com os mesmos paradigmas de 50 anos atrás. Não evoluímos. A cada ano que passa os docentes se distanciam cada vez mais da realidade e das necessidades urgentes.

A instituição ‘escola’ deixou de ser um local de extrema importância para a sociedade, e passou a ser apenas mais uma repartição pública com trabalhadores cumprindo sua função. Apenas.

Um ambiente estéril, que não vive, apenas existe.

Julho de 2022

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